Gigantes e sem janelas: como funcionam os centros que processam os dados da nuvem

Aumento de demanda por serviços online fez crescer a necessidade desses prédios, que já são problema para comunidades rurais

Gigantes e sem janelas: como funcionam os centros que processam os dados da nuvem

Para além dos populosos subúrbios do oeste de Washington, avistam-se vastos campos e terras agrícolas – panorama frequentemente interrompido por imponentes edifícios sem janelas que abrigam os computadores de alta velocidade que viabilizam tecnologias como o 5G e a inteligência artificial.

Esses centros de dados estão começando a se tornar uma presença marcante nas paisagens de todo o país, da Virgínia ao Oregon. Cada um deles tem centenas de servidores e roteadores que enviam e recebem dados para tarefas cotidianas, como streaming de conteúdo em dispositivos móveis e transações financeiras de alta velocidade.

"É o motor que impulsiona a máquina. Tudo que você tem em seu telefone está armazenado em algum lugar, entre quatro paredes", disse Gordon Dolven, diretor de pesquisa de centros de dados nas Américas da CBRE, empresa de serviços imobiliários comerciais.

Nos últimos anos, a necessidade de centros de dados aumentou rapidamente, impulsionada pelas mudanças nos hábitos de trabalho decorrentes da pandemia e pelo crescimento das tecnologias em nuvem. Isso significa mais prédios, mais terrenos, mais sistemas de resfriamento e mais eletricidade para suportar a infraestrutura física que opera 24 horas por dia, sete dias por semana.

Centrais de dados são cada vez mais comuns em regiões dos Estados Unidos

Centrais de dados são cada vez mais comuns em regiões dos Estados Unidos

GREG KAHN/THE NEW YORK TIMES - 11.06.2023

Segundo Noelle Walsh, vice-presidente corporativa de inovação e operações em nuvem da Microsoft, os avanços tecnológicos só aumentarão a demanda por centros de dados: "Como sociedade, estamos só começando."

 

 

No entanto, pode ser desafiante encontrar uma área com espaço adequado para construir um centro de dados e garantir o fornecimento de eletricidade em quantidade suficiente para operá-lo. Além disso, os desenvolvedores precisam lidar com as preocupações da comunidade em relação a esses edifícios gigantescos que estão surgindo ao lado de conjuntos habitacionais e sobrecarregando os fornecedores locais de eletricidade, que têm enfrentado dificuldades para atender à demanda.

A Virgínia do Norte concentra uma grande quantidade de centros de dados, em parte por causa da proximidade com as principais infraestruturas físicas que constituem a base da Internet. Este ano, a Amazon anunciou que planeja construir vários centros de dados na Virgínia até 2040, investimento estimado em US$ 35 bilhões.

 

Na Costa Oeste, há uma área semelhante próxima ao Vale do Silício. A maior parte do tráfego mundial da internet passa pelos equipamentos dessas duas regiões, que funcionam como importantes corredores de acesso à rede.

 

Os analistas do setor atestam a crescente necessidade de construir data centers em todas as outras regiões do país, parte de um esforço para aproximá-los dos clientes e aproveitar a expansão das redes de alta velocidade em áreas rurais e cidades menores.

 

Em 2022, havia mais de 2.701 centros de dados nos Estados Unidos, o maior número do mundo, com a Alemanha bem atrás, em segundo lugar, e a Grã-Bretanha e a China na sequência, conforme dados compilados pelo portal Statista. Além de seus dois hubs costeiros, os centros de dados dos EUA estão concentrados perto de grandes cidades, de Atlanta a Seattle.

As grandes empresas digitais e o governo federal geralmente possuem e operam os próprios centros de dados. Outras empresas e governos frequentemente alugam espaços. "Qualquer um que possa se mudar para o centro de dados de outra pessoa vai fazer isso", afirmou Jim Coakley, desenvolvedor, proprietário e gestor de centros de dados de alta segurança e alta densidade. O primeiro deles foi construído na Virgínia do Norte há quase 20 anos.

O condado de Loudoun, na Virgínia, é um local estratégico para centros de dados, mas Prince William, condado vizinho, também está passando por uma súbita expansão. A administração local recentemente aprovou uma grande mudança de zoneamento de uma área de 850 hectares, abrindo caminho para cerca de 2.300 km² de novos centros.

A decisão sobre o zoneamento não é isenta de controvérsias. Conhecido como Digital Gateway, o terreno fica próximo ao Parque Nacional do Campo de Batalha de Manassas, cujo superintendente expressou preocupação com "possíveis danos irreparáveis" ao local histórico. Ann Wheeler, presidente da Controladoria Pública de Prince William e defensora veemente da mudança de zoneamento, perdeu sua candidatura à reeleição nas primárias democratas na semana passada, depois que uma campanha popular para destituí-la enfatizou seu apoio à construção de mais centros de dados.

Aumento de demanda da nuvem faz crescer quantidade de centrais do tipo

Aumento de demanda da nuvem faz crescer quantidade de centrais do tipo

GREG KAHN/THE NEW YORK TIMES - 11.06.2023

De acordo com uma pesquisa da consultoria de TI Gartner, os centros de dados serão construídos cada vez mais longe de alguns dos locais tradicionais e mais perto dos clientes que atendem. Mas a busca por terrenos disponíveis nem sempre é fácil. "Os terrenos adequados, com energia suficiente para manter essas instalações, utilizam dez vezes mais do que construí em 2006. Os centros de dados simplesmente sugam quantidades enormes de energia", disse Coakley.

A demanda por centros de dados é tão grande que, assim que um deles entra na fase de projeto, o terreno é rapidamente alugado, antes mesmo de seu anúncio. "Todas as instalações construídas são imediatamente alugadas. Não há nenhuma disponível", informou Ryan Goeller, corretor de imóveis comerciais e diretor da KLNB, especializado na Virgínia do Norte.

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Ainda assim, as demandas de energia estão complicando o crescimento em algumas partes do país. A Dominion Energy, concessionária de energia elétrica da Virgínia mais utilizada pelos centros de dados, afirmou que está tendo dificuldade para fornecer energia suficiente. Alguns residentes temem ser forçados a subsidiar as necessidades dos centros de dados na área, como a construção de novas linhas e subestações de energia. O Vale do Silício vem enfrentando desafios semelhantes, de acordo com um relatório emitido em fevereiro pela CBRE.

Para reduzir a demanda de energia, a indústria vem buscando soluções mais eficientes, segundo Arman Shehabi, cientista da Área de Tecnologias Energéticas do Laboratório Nacional de Lawrence Berkeley: "Houve muito crescimento, mas também muitas oportunidades de eficiência e incentivos a ela." E, à medida que os principais atores do setor de dados se esforçam para se tornar mais verdes na próxima década, a pressão aumenta. "O crescimento da inteligência artificial vai exigir novos tipos de eficiência. No momento, ela usa muita eletricidade, mas não está claro se isso vai continuar a ser verdade", acrescentou ele.

De acordo com a CBRE, a demanda por eletricidade e a disponibilidade de eletricistas qualificados influenciaram muitas decisões em 2022 sobre a localização dos centros de dados.

Há também outras preocupações ambientais. Os sistemas de backup para os centros de dados geralmente dependem de gás natural e diesel, o que pode contrariar os esforços para a obtenção de energia limpa. A demanda de água também está aumentando, ressaltou Shehabi: "Precisamos ser estratégicos em relação aos locais de instalação dos centros de dados e considerar o nível de estresse hídrico dessas áreas ao projetá-los."

Fonte https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/gigantes-e-sem-janelas-como-funcionam-os-centros-que-processam-os-dados-da-nuvem-06072023