Pomada de cabelo: prazo da Anvisa para concluir investigação sobre casos de irritação vai até maio

Enquanto durar a apuração da agência, a venda de todas as 3.154 marcas de pomadas (nacionais e importadas) para trançar, modelar e fixar cabelo segue proibida no país.

Pomada de cabelo: prazo da Anvisa para concluir investigação sobre casos de irritação vai até maio

O prazo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para concluir a investigação sobre os casos de irritação nos olhos provocada por pomadas para trançar cabelos vai até maio, segundo informou ao g1. Enquanto isso, a venda de todas as marcas segue proibida no país.

 

 

No total, 3.154 marcas (nacionais e importadas) são afetadas pela decisão, que é preventiva temporária.

???? O período de até 90 dias de interdição cautelar é baseado em uma legislação sanitária federal, que prevê a realização de testes e análises para apurar o que provocou as dezenas de casos de queimaduras oculares e até cegueira temporária. Após esse prazo, os produtos em que não forem constatados problemas serão liberados.

 

"Somente com uma investigação concluída e a certeza de segurança para o consumidor é que estes produtos poderão voltar ao mercado", diz a Anvisa em nota.

 

Nesta terça, a Anvisa determinou o recolhimento de diversas pomadas modeladoras por causa da presença de uma "substância conservante não permitida" nos lotes desses produtos.

 

1 - O que causou as irritações nos olhos?

 

Não se sabe aindaA origem do problema ainda é investigada. Por essa razão, até o momento, a agência NÃO divulgou, por exemplo, o nome de uma substância em específico presente nas pomadas que possa estar causando as irritações.

Ao Fantástico, Leonardo Leitão, gerente de Cosmetovigilância da agência, explicou que, além da composição, a Anvisa avalia se a forma de uso ou contato com a água possui alguma relação.

Alguns consumidores relataram queimaduras nos olhos ao entrar na piscina ou após tomar chuva, fazendo com que a pomada escorresse do cabelo para o rosto.

Manicure Josiane Reis de Souza ficou dias sem conseguir enxergar após usar pomada para trançar os cabelos — Foto: Reprodução

Manicure Josiane Reis de Souza ficou dias sem conseguir enxergar após usar pomada para trançar os cabelos — Foto: Reprodução

A gente tem que avaliar o que está acontecendo de fato. Se é a composição [desses produtos], a forma de uso, o contato com a água. Tem que saber exatamente o que está acontecendo para tomar a medida sanitária mais adequada.

— Leonardo Leitão, gerente de Cosmetovigilância da Anvisa

Na sexta-feira (17), haverá uma reunião técnica com os fabricantes para discutir a regularização dos produtos.

 

2 - Por que todas as marcas foram proibidas?

 

Por precauçãoAntes de suspender a venda de todas as marcas, a Anvisa já vinha vetando a comercialização dos produtos. Como mostrou o Bem Estar, mais de 20 fabricantes tinham sido afetados até a metade de janeiro. No entanto, com o aumento dos casos de intoxicação, a agência resolveu, então, na última sexta (10), estender a medida a todas as pomadas vendidas no país.

Anvisa proíbe venda de mais de 3 mil marcas de pomadas modeladoras para os cabelos

 

 

Anvisa proíbe venda de mais de 3 mil marcas de pomadas modeladoras para os cabelos

 

3 - Por que especialistas defendem a suspensão?

 

Apesar de a medida da Anvisa afetar TODOS os produtos descritos como pomadas para trançar, modelar ou fixar cabelos, incluindo aqueles que talvez não apresentem problema, especialistas defendem a proibição temporária de venda de todas as marcas por ser mais seguro.

A médica dermatologista pela USP Marcelle Nogueira, que é membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia, ressalta que a interdição é "para proteger a saúde da população enquanto são feitos esses testes, as provas, as análises e até outras providências sobre o caso".

"Hoje, a gente não sabe qual é exatamente o ativo dentro dessas formulações que tem causado esse tipo de reação e muito menos qual é a concentração desse ativo capaz de causar isso.

— Marcelle Nogueira, dermatologista

Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina, fundador e ex-presidente da Anvisa, esse tipo de decisão não é inédito.

Como há a ocorrência de fatos indesejáveis graves associados ao uso desses produtos e a origem do problema ainda é investigada, Vecina ressalta que procedimentos assim são importantes para que os técnicos da agência avaliem a causa.

???? Entre os eventos relatados por consumidores estão:

 

  • Cegueira temporária (perda temporária da visão);
  • Forte ardência nos olhos;
  • Lacrimejamento intenso;
  • Coceira;
  • Vermelhidão;
  • Inchaço ocular; e
  • Dor de cabeça.

 

Justamente por causa desses riscos, médicos e especialistas também avaliam como prudente a decisão de suspensão temporária da Anvisa.

Fabiane Brenner, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), explica que, na pele, as lesões são relacionadas a exposição a agentes irritantes causando dermatite de contato e manchas vermelhas ou amarronzadas temporárias.

O problema, no casos das pomadas, é que, após trançar os fios, o cabelo não é lavado. Quando imerso em água, essas substâncias podem ter contato com o restante da pele, olhos e boca, causando irritação. É possível que concentrações elevadas de substâncias pouco conhecidas estejam relacionadas a este processo.

— Fabiane Brenner, dermatologista

A dona de casa Mayara Santana está usando tampão no olho após sofrer queimadura na retina após pomada capilar cair nos olhos — Foto: Mayara Santana/Arquivo pessoal

Já Myrna Serapião, oftalmologista especialista em doenças da superfície ocular e córnea do Hospital dos Olhos em São Paulo, alerta que, embora algumas substâncias tenham sido levantadas como suspeitas de provocar a lesão ocular (como o propilenoglicol), o fato é que a Anvisa não confirmou nada até o momento.

Por isso, para evitar danos oculares, a médica ressalta que é preciso, pelo menos por enquanto, evitar a utilização desses produtos.

Não temos a noção exata ainda do que tem causado esse crescente número de pacientes comprometidos com a toxicidade dessas pomadas. Por isso, achei bem interessante a suspensão da Anvisa para previnir que outros casos aconteçam até que seja esclarecido a origem.

— Myrna Serapião, oftalmologista.

 

4 - Existem alternativas seguras?

 

Sim, o gel fixador, que não foi impactado pela proibição de venda e uso. Para orientar os consumidores e ensinar como substituir as pomadas, o g1 Pernambuco ouviu um trancista que trabalha em um salão especializado em penteados para cabelos crespos e cacheados. Veja dicas aqui.

Apesar disso, a dermatologista Marcelle Nogueira ressalta que, embora existam no mercado outros tipos de produtos que podem ser usados para fazer penteados e tranças, no momento, é preciso ter cautela e evitar também alternativas vendidas como pomadas naturais.

 

"Mesmo as substâncias naturais podem trazer toxicidades", lembra. "Não é porque um produto é natural que não terá eventos adversos. Por isso, é importante que essas alternativas também não sejam procuradas".

 

 

5 - Como checar se o produto é autorizado pela Anvisa?

 

A Anvisa disponibiliza em seu site uma lista de produtos autorizados e regularizados, que pode ser acessada neste link.

Na página, o consumidor pode fazer a consulta informando alguns dos seguintes dados, encontrados na embalagem do produto:

 

  • nome do produto;
  • CNPJ da empresa;
  • número do processo de regularização, que, geralmente, começa com 25351 (a Anvisa, inclusive, recomenda que a consulta seja feita preferencialmente dessa forma);
  • ou o período de vencimento do registro.

 

A pesquisa irá mostrar se o registro daquele produto está ativo ou inativo. Entenda a classificação:

 

  • ✔️ ATIVO: o produto encontra-se regularizado na Anvisa, sendo permitidas sua fabricação, importação e comercialização.
  • ❌ INATIVO: o produto não está mais regularizado, sendo proibidas sua fabricação e importação. O registro pode ter sido cancelado por ter expirado, a pedido do fabricante ou por irregularidade.

 

???? Outras formas de consulta:

 

 

Fonte https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/02/14/pomada-de-cabelo-prazo-da-anvisa-para-concluir-investigacao-sobre-casos-de-irritacao-vai-ate-maio.ghtml