Entenda diferentes níveis de autismo e por que diagnóstico tardio é comum

Coordenadora do programa de diagnóstico do Hospital das Clínicas, na USP, deu entrevista ao podcast 'O Assunto'. Levantamento nos EUA apontou grande salto no número de diagnósticos.

Entenda diferentes níveis de autismo e por que diagnóstico tardio é comum

A coordenadora do programa de diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) do Hospital das Clínicas, na USP, Joana Portolese, explicou em entrevista ao podcast "O Assunto" os diferentes níveis do transtorno e por que o diagnóstico tardio é comum em alguns casos. Joana explicou que o diagnóstico pode ser uma libertação e parte de um processo de autoconhecimento.

Segundo a especialista, no nível 1, pacientes não têm a presença de deficiência intelectual e possuem, inclusive, nível cognitivo muito alto, frequentando a escola com aprendizado e entrando no mercado de trabalho.

"[Pacientes com nível 1] precisam muitas vezes entender a compreensão do social, das intenções das pessoas, o que os outros querem delas. E, geralmente, essas pessoas podem ter um diagnóstico mais tardio. E o diagnóstico acaba sendo um momento de autoconhecimento e, muitas vezes, de uma libertação", afirma a especialista, que explica que só depois do diagnóstico é possível buscar informações.

"Quando a gente fala do nível 1, de suporte, a gente tá falando de uma pessoa que tem autonomia, tem plenas capacidades em termo de de frequentar escola, faculdade, muitos podem fazer intercâmbio, morar sozinho, casar, ter filho, dirigir [...]. Eles vão ter, talvez, algumas características que os atrapalhem, uma inflexibilidade maior, uma adesão à rotina, de se desorganizar, se tinha algo planejado, em algumas situações", explica.

Crianças brincam com mãos em janela de vidro — Foto: Getty Images

Crianças brincam com mãos em janela de vidro — Foto: Getty Images

 

Nível 2

 

Joana Portolese informou que, no nível 2, os pacientes têm uma ou mais comorbidades, mais associados a alguns quadros genéticos e neurológicos, e que pode haver prejuízos no comportamento que geram dificuldade de aceitação na sociedade.

 

 

"Já pode ter um comprometimento cognitivo e funcional. Então, muitas vezes, só o histórico dessa família, e dessa criança ou adolescente, acaba vindo com uma dificuldade muito grande na inclusão social, na escola", diz.

 

Nível 3

 

No nível 3, estão os casos de dependência maior das famílias, com cuidado frequente. "Aí são, muitas vezes, pacientes não-verbais, com comorbidades, condições genéticas e neurológicas. E muitas vezes há uma dificuldade de estar na escola, ter uma vida autônoma", afirma Joana.

 

Aumento de diagnósticos

 

Um levantamento realizado nos Estados Unidos revela o salto no número de diagnósticos: há 20 anos, havia 1 caso de autismo a cada 150 crianças; agora, identifica-se 1 caso a cada 36 crianças. No Brasil, o contingente identificado no TEA já passa de 2 milhões.

Para Joana, a maior quantidade de diagnósticos, se deve principalmente à preparação dos profissionais de saúde. “Muito está associado à capacitação dos profissionais. Certamente, [houve aumento do] ensino do autismo nas faculdades, nas formações dos estudantes, dos profissionais de saúde. Então, hoje a gente tem um conhecimento muito maior", relata.

"E também existe uma aumento de publicações, pesquisas, livros cursos, a internet. Isso tem trazido muito mais informação aos profissionais e aos pais. E isso faz com que o acesso ao serviço venha acontecendo com uma maior frequência."

 

Fonte https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/07/12/entenda-diferentes-niveis-do-transtorno-do-espectro-autista-e-por-que-diagnostico-tardio-e-co