No país de Sérgio Cabral e MC Pipokinha

A entrevista do ex-governador ao Metrópoles não deixa dúvida: ele terá a mesma recompensa que a funkeira recebeu após desabafar no palco

No país de Sérgio Cabral e MC Pipokinha

MC Pipokinha, cantora e dançarina de funk, recebeu sexo oral de uma fã nua no palco. A notícia, com vídeo, saiu nesse domingo. Um dia antes, publicou-se, também com vídeo, um desabafo que ela fez durante o show imediatamente anterior. Ajoelhada em lágrimas, enquanto os seus fãs gritavam “Pipokinha, rainha da putaria”, a moça disse:

Família, primeiramente eu quero agradecer a Deus, ele me deu tudo. Isso aqui é meu trabalho, eu não são sou uma vagabunda, isso é meu trabalho. Deus me deu tudo. Deus me deu um lugar pra mim morar porque eu não tinha. Deus me me deu uma família. Deus me deu tudo. Muito obrigado (sic) a todos que estão aqui.”

A funkeira MC Pipokinha fez o desabafo depois de sofrer cancelamento nas redes sociais. Ela teria normalizado assédio sexual em um podcast, e um bocado de gente não gostou, acusando-a de machista. Diante da repercussão negativa, a funkeira afirmou nas redes sociais ter sido mal interpretada — e, como isso não bastou, MC Pipokinha abriu o seu coração (não só ele) no palco. Deu certo. Espero que o sexo oral da fã tenha apagado eventuais dúvidas da moça sobre a gratidão e a fidelidade eterna do seu público.

No mesmo fim de semana em que fui apresentado à funkeira pela imprensa, Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro que saiu da prisão para um apartamento com vista para o mar de Copacabana, deu entrevista ao jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles. Se MC Pipokinha normalizou o assédio sexual, Sérgio Cabral normalizou a corrupção, a roubalheira, a gatunagem. Na entrevista, ele só admite que caixa 2 “é um tipo de corrupção, mas não é corrupção de faturar contrato”.

O ex-governador quer fazer crer que as empreiteiras que lhe pagaram propina tiraram a bufunfa da margem de lucro normal em contratos públicos, não de valores superfaturados, e que moralmente isso faz diferença. Sérgio Cabral afirma ainda, que foi obrigado a fazer uma delação falsa, por ser vítima do juiz malvadão Marcelo Bretas, previsivelmente já afastado do cargo, que o pressionou a tanto.

 

Ao falar sobre o magistrado que o condenou e de outras estrelas da Lava Jato, Sérgio Cabral começou a gritar, enquanto chorava como MC Pipokinha:

“Essa gente odeia a democracia, eles são de direita, eles são preconceituosos. Eles têm horror à política de cotas, eles têm horror à vida progressista. Eles têm horror a isso. Eles são de direita e ainda usam o nome de Deus. Esse Bretas usava o nome de Deus, um falso evangélico. Eu sei o que é Deus, porque, se não fosse Deus, eu não estava vivo hoje. Eu sei o que é Deus, numa cela 22 horas por dia sozinho. Esses caras não sabem nada do que é Deus. Esses caras são o anticristo.”

Nessa segunda, no Instagram, em recém-iniciada carreira de influencer, o ex-governador do Rio voltou a falar do Deus: “Quero dividir que minha fé em Deus foi fundamental para ficar os seis anos preso. Com a Bíblia, fiquei orando para Deus para ter resiliência”.

Fiquei na dúvida se MC Pipokinha e Sérgio Cabral têm o mesmo Deus. Como Deus é brasileiro e, segundo o ex-governador, necessariamente de esquerda, pode ser que sim. Mas não tenho dúvida de que, após o seu desabafo, o ex-governador do Rio de Janeiro vai ganhar um sexo oral divino, como agradecimento aos serviços prestados.

Fonte https://www.metropoles.com/colunas/mario-sabino/no-pais-de-sergio-cabral-e-mc-pipokinha