Professor explica como lockdown, indignação por incêndio e protestos espontâneos inflam as manifestações na China

Professor da Universidade de Nova York em Xangai, na China, o brasileiro Rodrigo Zeidan afirma que manifestações espontâneas, sem uma organização prévia, são normais na China. 'Protesto é o normal na China. É a forma da sociedade ser ouvida'.

Professor explica como lockdown, indignação por incêndio e protestos espontâneos inflam as manifestações na China

Professor da Universidade de Nova York em Xangai, na China, o brasileiro Rodrigo Zeidan afirma que, ao contrário do que se pode pensar no ocidente, os recentes protesto na China não são contra o governo central ou totalmente contra as medidas para evitar a transmissão da Covid.

"As pessoas não estão lutando contra o governo central. Inclusive, grande parte da população acredita que a política de Covid zero é boa, claro, porque não pegou. No Brasil, eu me lembro de ouvir falar 'ah, só quem morre é mais velho'. Numa cultura confuciana, onde o o mais velho é o mais respeitado, isso não faz o menor sentido, isso é maluquice. Deixar o avô morrer é a antítese do que é a cultura local aqui."

 

"Ninguém aqui quer que tudo seja aberto da noite para o dia para ficar que nem no ocidente. Isso é coisa de quem acha que o chinês quer ser igual ao ocidente. Não, não, não, não é essa a ideia," diz ele em entrevista ao episódio #844 do podcast O Assunto.

 

Manifestações se intensificaram neste fim de semana após incêndio que matou 10 pessoas em bloco de apartamentos no oeste da China — Foto: REUTERS/Thomas Peter

Zeidan explica que manifestações espontâneas, sem uma organização prévia, são normais na China.

 

"Protesto é o normal na China. É a forma da sociedade ser ouvida", diz ele.

 

"Quando as autoridades locais chegam e querem, por exemplo, expulsar uma família para fazer uma linha de metrô, as famílias do local vão se reunir para protestar."

 

Para ele, os protestos registrados após um incêndio que matou 10 pessoas em um prédio em Urumqi, capital da região autônoma de Xinjiang Uyghur, no oeste do país, despertou um sentimento de injustiça.

 

"Quando você tem as pessoas morrendo no incêndio, o que acontece é um movimento espontâneo das pessoas dizendo 'o Covid zero é para proteger a gente, mas aí o lockdown pode ter contribuído para as pessoas não serem resgatadas'", afirma.

 

"As pessoas estão protestando contra a autoridade de Xingyang que deixou as pessoas morrerem. As pessoas querem a mudança nessas medidas. Elas não estão discutindo o governo central, não é isso que as pessoas estão pedindo."

Fonte https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2022/11/29/professor-explica-como-lockdown-indignacao-por-incendio-e-protestos-espontaneos-inflam-as-manifestaco